sexta-feira, 6 de maio de 2011

Nicotina e cocaína têm modos de atuação semelhantes no cérebro

Uma pesquisa da Universidade de Chicago, nos EUA, descobriu que a nicotina e a cocaína acionam os mesmos mecanismos do cérebro quando são consumidas pela primeira vez. O estudo saiu na publicação científica “Journal of Neuroscience”.
Os neurocientistas aceitam que o aprendizado e a memória sejam codificados pelo cérebro por meio de um processo chamado plasticidade sináptica, que é o fortalecimento e o enfraquecimento das conexões entre os neurônios. Quando dois neurônios se ativam com muita frequência, a ligação entre eles fica mais forte, e eles se tornam mais capazes de interagir.
Em pesquisas anteriores, os cientistas já tinham descoberto que a nicotina desencadeia esse processo numa região do cérebro chamada área tegmental ventral (VTA, na sigla em inglês). É nessa região que se produz a dopamina, neurotransmissor que atua sobre o sistema de recompensas do cérebro. Esse mecanismo está relacionado ao prazer em atividades vitais para a espécie, tais como alimentação e sexualidade, mas também desempenha um papel importante nas relações de vício.
O atual estudo buscou compreender melhor como funciona o processo de plasticidade provocado pelo cigarro. Os pesquisadores fatiaram cérebros de ratos dissecados e colocaram as fatias numa solução com concentração de nicotina semelhante à de um cigarro.
Nos testes, eles descobriram que um receptor da dopamina chamado D5, que já era associado à ação da cocaína, também é necessário para que a nicotina atue no cérebro. “Descobrimos que a nicotina e a cocaína empregam mecanismos similares para induzir plasticidade sináptica nos neurônios da dopamina na VTA”, disse Danyan Mao, um dos responsáveis pelo estudo.
“Sabemos com certeza que há grandes diferenças na forma como essas drogas afetam as pessoas, mas a ideia de que a nicotina trabalha com as mesmas conexões que a cocaína indica por que tantas pessoas têm dificuldades em largar o tabaco, e por que tantos que experimentam a droga acabam se viciando”, afirmou Daniel McGehee, neurocientista da mesma universidade que também se dedica a este campo de estudos.

04/05/2011

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/05/nicotina-e-cocaina-tem-modos-de-atuacao-semelhantes-no-cerebro.html

Comentário:
Ação da cocaína:
A cocaína ocupa ou bloqueia os "sítios transportadores de dopamina" nas células cerebrais. A dopamina é uma substância sintetizada pelas células nervosas que age em certas regiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, a motivação. Os "sítios transportadores de dopamina" levam a dopamina de volta para dentro de certos neurônios, após ela ter "andado" pelo cérebro promovendo seus efeitos. Se a cocaína ocupar o mecanismo de transporte da dopamina, esta substância fica "solta" no cérebro até que a cocaína saia, e é justamente a presença anormalmente longa dela no cérebro é que causa os efeitos eufóricos associados com o uso da cocaína.
Tanto a dopamina como outras substâncias aumentadas no cérebro podem produzir vasoconstrição (processo de contração dos vasos sanguíneos) e causar lesões. Estas lesões podem incluir hemorragias agudas e infarto no cérebro (zona de morte celular, causada por falta de oxigênio), bem como necrose do miocárdio, podendo levar à morte súbita.
Grávidas que usam cocaína podem afetar seus fetos, levando-os ao nascimento com baixo peso ou risco de rompimento da placenta e até lesões irreversíveis do cérebro, causando deficiências mentais e físicas. Em muitos países, os "bebês da cocaína" são um sério problema de saúde pública, que está se agravando com a ampla disponibilidade do "crack".

Ação da nicotina:
A nicotina age sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina . Em pequenas quantidades, estimula estes, o que causa uma libertação de adrenalina e emoção. Em grandes quantidades, bloqueia-os, sendo esta a causa da sua toxicidade.
A nicotina também pode bloquear a liberação do hormônio insulina. A insulina comanda as células para que tirem o excesso de glicose do sangue. Isso significa que a nicotina deixa as pessoas um pouco hiperglicêmicas, com mais açúcar do que o normal em seu sangue.
Ela também pode aumentar levemente a taxa de metabolismo basal. O que significa que, só de estar sentada a pessoa queima mais calorias do que o normal. No entanto, perder peso devido ao fumo não traz nenhum dos benefícios de saúde que se ganhariam caso se perdesse peso praticando exercício. Na verdade, o que ocorre é o contrário. A longo prazo, a nicotina pode aumentar o nível de colesterol "ruim", o LDL, que danifica as artérias. Isso aumenta a probabilidade de um infarto ou um derrame.

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